Na vida adulta é impossível começar do zero. Calma. Eu explico.
Eu já vivi inúmeras crises e transições, em especial nos últimos 10 anos. Outro dia, respondendo a uma daquelas figurinhas “sua vez” lá nos meus stories, me dei conta disso. Era uma figurinha que propunha que você compartilhasse uma foto sua de agora e uma de 10 anos atrás. Vasculhando minha galeria de fotos, fui me dando conta das grandes mudanças que vivi nesses últimos 10 anos, de quanta coisa se redesenhou completamente nesse período. Eu entrei de vez no digital, lancei programas com centenas de alunas, me divorciei, perdi minha avó, me mudei para São Paulo, entrei num processo de depressão e burnout, perdi tudo, fiquei sem casa, cuidei da minha saúde mental num nível muito profundo, redesenhei minha carreira, voltei a ter um lar e me mudei de casa várias vezes, publiquei meu livro de poesias, assumi minha porção artista, fiz minhas primeiras exposições artísticas, assumi 100% meu trabalho como terapeuta… Isso resumindo muito. Olhando assim, pode parecer que comecei do zero várias vezes. Mas a grande verdade é que na vida adulta a gente não começa do zero, a gente sempre sai de algum ponto de partida. A gente sempre leva uma bagagem.
Numa nova carreira, você sempre vai levar aprendizados que estão enraizados em você e que vão, inclusive, fazer muita diferença para você adiantar até alguns degraus. Ao aprender uma nova língua, você sempre tem referências, seja de uma outra língua, seja sobre seu modo de aprender melhor. Num novo amor, você sempre vai trazer os aprendizados que teve ao se espatifar aqui, ao acertar ali. Ao entrar na menopausa, você vai trazer aprendizados sobre conhecer a si mesma e ouvir o seu corpo. Sempre tem bagagem, nunca é do completo zero, percebe?
Claro, a gente precisa cuidar também da sombra que vem nessa bagagem. As coisas não resolvidas, as coisas escondidas, os complexos e dores que vão se somando com o passar dos anos e das experiências. Aí, amada, é terapia mesmo e muito acolhimento para integrar a sombra e se fortalecer na inteireza.
Hoje, depois de já ter ultrapassado a casa dos 40, vejo com muito mais compaixão todos os movimentos que fiz e que começo a fazer. Acho incrível que hajam novos começos a qualquer tempo – sem essa de “tô velha demais para isso”, a não ser algo que envolva os meus joelhos, porque eles são de uma senhora de 98 anos!
Vejo mulheres incríveis, que são verdadeiras forças da natureza, às vezes se impedindo de dar um primeiro passo numa nova rota, por medo desse “começar do zero”. Quantas vezes a gente se impede, simplesmente por não suportar se ver no lugar de aprendiz, por querer logo atropelar os processos e estar no conforto de saber tudo lá na frente. Ou já sei ou nem me atrevo. Posso ser bem sincera com você? Medo de pagar mico é algo da adolescência. Acredito que se você se identificou com o que estou compartilhando e leu até aqui, você já passou da adolescência há bastante tempo. Acertei? Então, bora assumir o seu lugar de mulher adulta e superar esse medo de pagar mico. Bora tirar esse conceito do jogo, inclusive. Não cabe mais na vida adulta. Percebe?
Começar, na vida adulta, sempre é de algum ponto de partida. E ainda assim, traz um frescor enorme. Novos rumos, novos ares, novas possibilidades. Permitir que novas faces de você sejam descobertas, novas faces de você possam se expressar. E me lembrei aqui daquele convite que a Clarissa Pinkola Estés faz no livro A ciranda das mulheres sábias: “ser jovem enquanto velha e velha enquanto jovem.” Trazer o frescor da juventude e a sabedoria da maturidade para a nossa vida.
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