“O que realmente digo é que precisamos nos dispor a deixar a intuição nos guiar e, depois, seguir essa orientação diretamente e com destemor.”
Shakti Gawain
Houve um momento na minha jornada em que comecei a duvidar do meu olhar. Por ter feito escolhas pelas quais não me perdoava, que me levaram a um fundo do poço bem fundo, entrando numa crise emocional fortíssima (falei sobre isso nesse post aqui), não conseguindo mais trabalhar, nem me manter de pé. Mesmo depois de me refazer desse vendaval, por um longo tempo a culpa ficou martelando na minha cabeça. Qualquer escolha que eu precisasse fazer vinha cercada de muitas dúvidas. E se eu estivesse equivocada? E se esse caminho me levasse a mais erro e dor? E se eu não estivesse enxergando algo essencial?
Eu, que sempre me considerei intuitiva e corajosa, passei a me sentir travada e medrosa, duvidando de mim e de que meu olhar tivesse alguma lucidez. Desconfiando da minha intuição e da minha capacidade de bancar o que viesse a partir das minhas decisões.
A minha reação de extrema defesa – que agora vejo como muito compreensível, diante dos reveses que vivi – fazia com que eu abrisse mão de um dos meus maiores trunfos, a minha intuição.
Ouvindo e seguindo a minha intuição, eu me sentia confiante e firme para seguir o primeiro passo, sabendo que os demais seriam mostrados pelo próprio caminho. Assim como quando se dirige noite adentro, os faróis mostrando os primeiros metros e não a estrada inteira. Quando se segue a intuição com confiança, a gente pega o volante e vai, sabendo que já está enxergando o necessário e que o restante vai se revelando no caminho.
Sem ouvir nossa intuição, não temos a constatação do quanto ela funciona. Ficamos num limbo. E nos sentimos limitadas, reativas, querendo calcular cada milímetro da estrada sem nem mesmo estar nela. Sem ouvir e sem seguir nossa intuição, podemos cair em ciladas, como querer gurus que nos digam o que fazer, terceirizando o trabalho da nossa jornada de alma. Se seguimos o roteiro do outro, nos sentimos ainda mais desprovidas da nossa visão e entregamos nossa capacidade de escolha. A gente se sente frágil, por abrir mão de nossa força de confiar em si e confiar na vida.
Eu sei, às vezes é difícil acreditar na vida depois de levar umas rasteiras. Mas sabe o que vi na minha jornada? Eu presenciei que mesmo nas maiores rasteiras, vinha em seguida uma nova porta, se revelava que aquele caminho não era o melhor, surgia uma mão amiga, um colo, uma oportunidade. Como não confiar na vida, se tudo diz um grande Sim, no final das contas? Apesar de qualquer situação maluca que já tenha vivido, estou aqui, viva e saudável, conversando com você. Como não confiar? Você também sobreviveu a 100% das situações-limite que viveu e está aqui lendo essas palavras. O que significa que você é muito mais do que uma sobrevivente. Você é uma pessoa que quer criar e entregar seu potencial criativo ao mundo. Algo maior te guia e você segue esse chamado. Tamo junta nessa estrada.
Como criar então uma relação com a intuição? Através da criatividade é um excelente caminho. Indico algumas práticas a seguir.
Escreva e sinta
Escreva o que está sentindo, num fluxo livre. Coisas profundas já se mostram quando a gente abre espaço.
Pergunte e escute
Faça perguntas para sua intuição. Escreva o que vier. Confie no processo.
Além da palavra
Use outros recursos que não sejam a palavra – pinte, faça um desenho, dance… Veja que algo dentro de você vai guiando o processo, à medida que você permite.
Medo ou intuição?
Para saber, é preciso criar intimidade. Geralmente, o medo vem seguido de congelamento, dureza, reatividade. Observe onde ele bate no seu corpo, que partes ele ativa, que partes desativa. Geralmente, a intuição vem de um lugar mais fundo, pode até vir acompanhada de um arrepio, mas não congela, ela nos coloca no topo da montanha para ver o todo. Observe quais partes do seu corpo acordam quando você tem uma intuição. É com a convivência que você vai reconhecer sua intuição. E se você dá palco demais para o medo, ele vai falar mais alto. Ele vai ficando mais folgado e espaçoso.
INTUIR – Em tu ir. Um jogo de palavras que eu gosto e acho que mostra bem o teor da intuição: ir mais fundo em si, onde se enxerga além do medo e dos condicionamentos. Lá onde os nossos sentidos e o nosso faro são selvagens.
(Esse texto é parte do meu novo livro que está em fase de produção. Compartilho com você, para acompanhar comigo esse processo de criação.)
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2. Escute os episódios do meu Podcast Múltipla para continuar a reflexão.