O que pode estar fazendo você empacar
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Primeiro, o que é empacar? Acabei de achar nesse dicionário online, uma definição que me fez rir:

Emperrar; parar a cavalgadura manhosamente.

Que nem mulas e jegues tem hora que a gente manhosamente para de cavalgar… Tá bom, tá bom! Nem sempre a gente empaca manhosamente, tem hora que o vazio toma conta de tudo e a gente entra numa angústia daquelas. Mas tem hora que a gente fica meio manhoso mesmo, com medo de dar o próximo passo, que nem criança se escondendo, né? E não tem problema, a gente pode reconhecer isso e seguir em frente levemente. ; )

“O que fazer para desempacar, afinal?”

Geralmente, essa pergunta vem dos meus leitores e clientes multipotenciais. Aquelas pessoas que têm vários talentos e interesses, várias paixões e potencialidades criativas. E é tanta possibilidade que a pessoa pode acabar paralisando, pois não sabe nem por onde começar a desenhar o caminho.

A característica de gostar de muitas coisas e ter várias potencialidades é o que faz empacar?

Bem, a angústia diante da escolha é tema antigo na filosofia, é condição presente em nossa existência desde o momento em que temos a liberdade nas mãos.

Por outro lado, algo que parece fazer as escolhas pesarem para além da conta é a tal noção de que existe um só caminho de acerto, de que existe só 0 ou 10, só o bom ou o ruim. A nossa cultura tem um foco extremo no afunilar, em formar e valorizar o perfil especialista, em sobrestimar o caminho linear. Qualquer coisa que escape à linha é vista como errada. E errar é horrível, inadmissível, proibido! Daí perdemos o contato com a possibilidade de ser o caminheiro errante, que descobre tanto no caminho.

Diante de questões tão amplas e tão antigas, que remetem a valores culturais e vão passando geracionalmente sem que ninguém questione, você pode estar empacando.

E você pode estar empacando também:

Por medo do que os outros vão pensar

Ah, o aval do outro… E muitas vezes um outro que a gente nem conhece ou que nem participa realmente da nossa vida ou um outro que é tão diferente de nós, que não faria sentido a gente esperar pela sua opinião para trilhar o nosso caminho.

Olha, não sei se você já notou, maaas por mais que você “ande na linha” e caiba certinho nos moldes, sempre vai ter alguém pensando que você devia fazer e ser de outro jeito. Então, baby, se liberta.

Por não conferir valor ao processo, só ao resultado

1) Não tem só um ponto por onde começar. Você pode começar de onde você está e com o que você tem. Puxa o fio e vai.

2) Não existe um ponto único a chegar. A vida é o caminho. A gente pode ter marcos e celebrações de etapas. Mas ainda assim, eles fazem parte do caminho.

Aprender a curtir os processos pode ser o pulo do gato, principalmente se você for multipotencial, querida leitora, querido leitor.

Por olhar para as coisas no singular: o caminho, o talento, a paixão…

Esse engodo é o mesmo que faz a gente se prender à ideia de uma só escolha, um só caminho, a ideia de certo e errado tão arraigadas na nossa cultura.

Na real, você tem diversos talentos, diversos pontos fortes, diversas paixões. Sobre a questão da vocação, como “aquela coisa” que nos chama (lembra do vocativo nas aulas de gramática?)… Existem tantas coisas que nos chamam. Né? Claro, você pode perceber onde seu olho brilha, onde seu coração bate mais forte. Mas com certeza, se a multipotencialidade faz parte do seu universo, não vai ser uma coisa exclusiva que vai lhe guiar nesse chamado. Mas uma conjunção. E se você parasse de brigar com isso e visse a beleza disso?

E além das coisas que lhe chamam, e você? Chama pelo quê?

Por estar olhando para o dedo e não para onde ele aponta

Para onde suas curiosidades levam você? Suas dúvidas, suas vontades, sua sede por saber mais. Siga os vagalumes misteriosos pela floresta à dentro – e não fique capturando os vagalumes para levar bundinhas piscantes para sua casa.

Se você vê uma placa com uma seta, não fica ali eternamente do lado da placa, porque ela é que apareceu na sua estrada. Abandonar a pressa de ter uma resposta pronta, já pode ajudar a encontrar as respostas mais profundas.

Por não se permitir ser aprendiz

Multipotenciais são seres, em essência, aprendizes. Se você é multipotencial, mas se deixou contaminar pelo que diziam sobre como as coisas deveriam ser… Provavelmente começou a brigar com essa característica essencial, porque começou a achar bobagem aprender tantas coisas que não seriam imediatamente utilizadas ou linearmente compreendidas. Talvez você tenha absorvido a alta exigência de sempre acertar e ficou com o vício de só entrar no jogo se for pra ganhar estrelinha. Ei, o próprio jogo de aprender já é o ganho.

Por adotar noções não refletidas 

Primeiro, é importante reconhecer que o mundo vem mudando imensamente e em tempos de piscadelas já temos várias novidades rolando. O mundo do trabalho não é mais o mesmo. Novas necessidades aparecem, novas ações são necessárias, de novas maneiras. E além disso, além dessas mudanças que estão aí fora, cabe a gente refletir sobre o que vai aqui dentro.

O que você valoriza? De verdade. Não o que lhe disseram que deveria ser valorizado. Quais são as suas definições para trabalho, realização, sucesso, dinheiro, tranquilidade? Defina nos seus termos. Isso já é um passo para desempacar e desenformar.

Por ouvir demais o que todo mundo tem a dizer – e se ouvir muito pouco

Tem hora que é preciso simplesmente baixar o volume das vozes dizendo o que a gente deve fazer, pensar, desejar, ser. Porque se você não baixar o volume, aí vai empacar mesmo. Serão muitas direções apontadas, sem um centro do qual você possa partir.

Agora, imagine…

E se você se deixasse levar? A necessidade de controle pode ser o que está fazendo você empacar. E se você se deixasse guiar por suas curiosidades? Lesse mais, participasse de cursos, conversasse com pessoas, sentisse como o contato com cada elemento mexe com você.

Não necessariamente jogar tudo pro alto e morar na casinha da montanha. Engraçado como a gente tende a ir de um extremo a outro, né? Se me sinto presa, só penso que a outra possibilidade seja romper com tudo e viver na radicalidade de nenhum contato com a realidade anterior. Nem a banalzinha régua escolar tem só o 0 e o 30, entre eles existem centímetros e milímetros diversos. Por que a nossa experiência, que é muito mais complexa, não teria níveis e nuances ainda mais diversos?

Possibilidades.

E se a gente se deixasse levar e curtisse o caminho? Sem se pressionar para achar respostas lineares e pontuais – as mesmas que parecem ser feitas para orientar, mas nos tiram o centro e a direção. Prosseguir, aproveitando o que cada descoberta traz, desfrutando de cada nova pergunta que surge a partir da anterior, degustando a clareza que vai brotando desse movimento de novas e mais profundas perguntas.

O que isso vai gerar especificamente? A pessoa que você é agora não tem como saber. É preciso a travessia.

E os conhecimentos se unem lá na frente, pode apostar. Palavra de multipotencial que vem reunindo um bocado de coisas colhidas pelo caminho.

E no mínimo? Você vai aprender coisas incríveis, desenvolver novos potenciais, ampliar seus horizontes.

A tempo: você não tem que transformar todos os seus talentos, todas as suas paixões, todos os seus interesses em trabalho, não. Sabia? Pois pode acreditar! Quanto mais eles caminharem junto com quem você é na vida, maravilha. Mas você não tem que colocar tudo numa fôrma. Aliás, chega de fôrmas, né? Para que buscar mais do mesmo, que já não funcionou antes? Novas perguntas, novos e amplos cenários.

Permita-se ser aprendiz. Inclusive de si.

e x t r a s :

Sobre multipotencialidade, recomendo esse TED Talks com a Emilie Wapnick.

Sobre escolhas, assista a esse vídeo com a Viviane Mosé.

– Depois me conta o que achou dos vídeos?

E por agora, seguimos a conversa aqui nos comentários. Vamos? 

 

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