Alguns anos atrás, eu queimei meus fusíveis. Tive uma enorme crise emocional, depois de um período que me exigiu muito, ritmo insano de trabalho, vários lutos e eu me perdi de mim. Aos poucos a coisa toda ganhou proporções inimagináveis. O adoecimento me levou a não conseguir mais me manter de pé. E chegou aquele momento, que talvez você conheça.
Quando o que você mais precisa é criar – e é o que você menos consegue.
Àquela altura, eu precisava criar já por sobrevivência. Literalmente mesmo, eu precisava me sustentar, pagar os boletos, ter um teto. E o que começou a acontecer? Toda e qualquer ideia que se esboçasse diante de mim, logo eu já limitava. “Isso vai render algo? Isso vai dar dinheiro?” E antes que a ideia pudesse mostrar qualquer potencial de render algum fruto, qualquer fruto, eu já cortava na raiz. Porque eu estava no modo sobrevivência. Nem preciso dizer que esse quadro só piorou, à medida que a grana apertava e que eu me sentia ainda mais preocupada e doente.
No meio de tudo isso, veio um feriado – que não era um feriado qualquer, era um carnaval – e eu resolvi que faria um retiro criativo. De tempos em tempos, eu faço algo assim. Fico imersa um ou alguns dias, para alimentar minha criatividade e meus projetos. Algo mágico acontece quando a gente abre espaço.
Naquele ano, não só fiz o meu retiro criativo, como resolvi convidar as pessoas para fazerem comigo. E entrei no seguinte modo: eu vou fazer o retiro criativo de toda maneira, se as pessoas quiserem embarcar comigo, vou criar um percurso, exercícios de desbloqueio, empacotar o processo para ser entregue; se ninguém embarcar, vou fazer só para mim. Para a minha surpresa, as pessoas toparam o convite. Eu, que vinha de meses de seca criativa, ao resolver me dar um tempo de desbloqueio e nutrição, também convidando as pessoas para isso, vi acontecer o que eu esperava há tempos.
Quando relaxei e me desapeguei de ter um resultado xyz, pude ver a potência criativa retornar. Deixei que uma ideia se apresentasse, criasse raízes e aí gerasse brotos, frutos, flores.
Quando o que a gente mais precisa é criar, precisa se lembrar que a criatividade, em si, é remédio, é elixir, é energia que nos injeta força para o próximo passo. Por mais contraproducente que possa parecer, para que os resultados aconteçam, precisamos ter uma dose de desapego de resultados. Precisamos apostar na semente, dar tempo, solo e espaço para que ela germine.
Quando o que você mais precisar for criar, crie. Isso abre caminho para o que pode vir desse simples ato de fé.
Faz sentido?
Agora convido você para 2 coisas:
1. Comente aqui o que essa conversa fez você pensar.
2. Escute os episódios do meu Podcast Múltipla para continuar a reflexão.